Havia um quarto por cima ,ao qual dávamos nome de soalho por não ser de terra batida mas de tábuas(...)Uma janela de alcapão, porque deixara há muito de funcionar, separava-me dessas noites frias e ermas. A ferrugem soldara-lhe em definitivo as dobradiças, e eu via toneladas de nuvens rasando essa janela barrenta, oxidada nos eixos já carcomidos. Lembro-me de às vezes ficar ali a contar nuvens e a imaginar-lhe as formas de coisas conhecidas. Umas pareciam-me com vacas deitadas nos pastos, por causa das patas flectidas e das cabeçorras obliquas. Outras muitas maiores eram casas navegantes ou navios encalhados, talvez mesmos mapas que iam fundir-se noutos mapas e formavam países fantasmas- numa espécie de dança, voo planado ou arraial sem ruídos. Se fosse hoje com o meu conhecimento do mundo, diria das nuvens desse tempo que seriam castelos, grandes mountains arrastando-se de norte para sul, ou rostos históricos que se mirassem não sem em que águas, mas decerto nos espelhos de ar que a gente espreita dentro dos aviõesJoão de Melo, Gente feliz com Lágriams
quarta-feira, 13 de junho de 2012
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2 comentários:
Havia nas nossas casas um lugar onde o sonho era permitido e onde era fácil sonhar-se...
gosto muito desse livro!
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